quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobre as Trevas Espirituais - Diário de Santa Faustina Kowalska

Provações Divinas na alma especialmente amada por Deus. Tentações e Trevas, Satanás

(Do Diário de Santa Faustina):

     O amor da alma não é ainda tal como Deus o exige. A alma repentinamente perde a percepção da presença de Deus. Surgem nela diversos erros e defeitos, com os quais deve travar luta encarniçada. Todos os seus erros reaparecem, apesar de sua vigilância ser grande. O antigo sentir da presença de Deus é substituído pela tibieza e a aridez espiritual; a alma não sente gosto nos exercícios espirituais, não pode rezar, nem como antigamente, nem como rezava ultimamente. Agita-se por todos os lados e não encontra satisfação. Deus se escondeu diante dela, e ela não encontra conforto nas criaturas e nenhuma criatura consegue consolá-la. A alma deseja ardentemente a Deus. Parece-lhe ter perdido todos os dons divinos. A sua mente encontra-se como que obscurecida. As trevas a invadem num tormento indizível. A alma procura explicar o seu próprio estado ao confessor, mas não é compreendida. Então experimenta inquietações ainda maiores. Satanás inicia a sua trama.

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     A fé é exposta ao fogo da luta, que é grande; a alma faz esforços e pelo ato de vontade ela permanece com Deus. Satanás, com a permissão de Deus, avança ainda mais; a esperança e o amor estão sendo provados. São terríveis essas tentações; Deus sustém a alma como que em segredo. Ela não sabe até que ponto pode prová-la. A alma sofre a tentação da descrença quanto às verdades reveladas, e da insinceridade diante do confessor. Satanás lhe diz:¨Olha, ninguém te compreenderá, para que falar disso a todo mundo?Ressoam-lhe aos ouvidos palavras que o atemorizam e parece-lhe que as pronuncia contra Deus. Vê o que gostaria de não ver; ouve o que não quer ouvir. E é terrível, em momentos como estes, não ter um confessor bem preparado, porque pode desfalecer sob esse peso e cair no abismo. Todas essas provações são pesadas e difíceis. Porém, Deus não permite que elas atinjam uma alma que anteriormente não tenha sido admitida para uma mais profunda convivência com Deus e que não tenha experimentado as doçuras divinas. Além disso, Deus tem aí Seus desígnios, para nós insondáveis. Frequentemente, é assim que Deus prepara a alma para futuros projetos e grandes obras. E quer prová-la como se prova o ouro puro; mas isso ainda não é o fim da prova. Existe ainda a provação maior de todas - isto é, o completo abandono por parte de Deus.

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A maior prova, o Abandono total - Desespero

     Quando a alma sai vencedora das provações anteriores, ainda que possa tropeçar, luta corajosamente e, com profunda humildade clama ao Senhor: ¨Salvai-me, porque estou perecendo.¨- Mas continua a ser capaz de lutar.

     Agora, a alma é envolvida por trevas terríveis. A alma vê em si apenas pecados. O que sente é terrível. Vê-se totalmente rejeitada por Deus, sente como se fosse objeto do seu Ódio e encontra-se a um passo do desespero. Defende-se como pode, procura despertar a confiança, mas a oração é para ela um tormento ainda maior, parece-lhe que está provocando Deus a uma ira ainda maior; sente-se como que colocada num cume altíssimo, suspenso sobre um precipício.

     A alma busca insistentemente a Deus, mas sente-se rejeitada. Todos os tormentos e suplícios do mundo nada são em comparação com esse sentimento no qual ela é completamente submersa - isto é, o de ser rejeitada por Deus. Ninguém pode trazer-lhe alívio. Vê que está sozinha; não tem ninguém para defendê-la. Eleva os olhos para o Céu, mas sabe que o Céu não é para ela - para ela tudo esta perdido. Das trevas cai em trevas ainda maiores, parece-lhe que perdeu a Deus para sempre, a esse Deus a quem tanto amava. Um tal pensamento a induz a um sofrimento indescritível. Contudo, ela não se conforma com isto, tenta olhar para o Céu, mas em vão - o que lhe provoca é um sofrimento ainda maior.

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     Ninguém consegue iluminar uma alma assim, se Deus a quiser manter nas trevas. Ela se sente rejeitada por Deus de maneira viva e terrificante. Do seu coração se elevam gemidos de dor e tão pungentes que nenhum sacerdote poderá compreendê-los, a não ser que ele mesmo tenha passado por isso. Nesse estado, a alma ainda tem que suportar sofrimentos provenientes do espírito do mal. Satanás escarnece dela: ¨Estas vendo, vais continuar fiel? Eis o teu pagamento, estás em nosso poder.¨Embora Satanás tenha sobre essa alma tanta influência quanta Deus permitir, Deus sabe quanto podemos suportar. O maligno prossegue: ¨E o que adiantou antes teres te mortificado? E o que adiantou seres fiel à Regra? Para que todos esses esforços?Deus te rejeitou.¨- Essa palavra ¨rejeitou¨ transforma-se em fogo que penetra cada nervo até a medula dos ossos; transpassa todo o ser. Aproxima-se o maior momento da provação. A alma já não procura ajuda em parte alguma, mergulha em si mesma e não vê nada diante dos seus olhos e parece quase se conformar com esse sofrimento de rejeição. É um momento que não consigo expressar. É a agonia da alma.

     Quando esse momento começou a aproximar-se de mim pela primeira vez, dele fui arrancada somente pela virtude da santa obediência. A Mestra assustou-se quando me viu e enviou-me ao confessor, mas o confessor não me compreendeu, e não senti nem sombra de alívio. Ó Jesus, dai-nos sacerdotes experientes.

     Quando disse que estava sofrendo suplícios infernais na minha alma, respondeu-me que se sentia tranquilo quanto à minha alma, porque está vendo nela uma grande graça de Deus. Mas eu não compreendi coisa alguma e nem um raio de luz entrou na minha alma.

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 - Agora começo a sentir a falta das forças físicas e já não posso dar conta dos meus deveres. Já não posso também esconder os meus sofrimentos, e embora não diga nenhuma palavra sobre o que estou sofrendo, trai-me a dor que se reflete no meu rosto. A Superiora me contou que as Irmãs lhe disseram que, quando olham para mim na capela, sentem compaixão de mim; tão terrível é o meu aspecto. Apesar dos meus esforços, a alma não tem condições de esconder esse sofrimento.

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     Jesus, só Vós sabeis como a alma geme nesses suplícios, envolvida pelas trevas, e, no entanto, deseja a Deus e anseia por Ele como os lábios ressequidos anseiam pela água. Ela morre e resseca, morre de uma morte sem morte, isto é, não pode morrer. Os seus esforços nada significam; encontra-se já em poder do Deus Justo e Três Vezes Santo. - Rejeitada pelos séculos. - Esse é o momento culminante e somente Deus pode provar a alma dessa maneira, porque somente Ele sabe o que ela pode suportar. Quando a alma fica toda impregnada desse fogo infernal, precipita-se como que no desespero. A minha alma passou por esse momento quando me encontrava sozinha na cela. Quando a minha alma começou a mergulhar no desespero, senti que começava a agonizar ; contudo, agarrei o crucifixo e apertei-o firmemente nas minha mãos. Era como que meu corpo se separasse da alma e, embora quisesse ir falar com as Superioras, já não tinha forças físicas; pronunciei as últimas palavras: ¨Confio na Vossa Misericórdia¨- e pareceu-me que havia levado Deus a uma cólera ainda maior. Mergulhei no desespero; só de vez em quando escapava da minha alma um gemido doloroso, um gemido inconsolável. Estava agonizando. E parecia-me que já ficaria nesse estado, porque com minhas próprias forças não sairia dele. Cada lembrança de Deus era um mar de sofrimentos indescritíveis. E, no entanto, há alguma coisa na alma que busca a Deus com insistência, mas parece que é apenas para ela sofrer mais. A recordação do antigo amor, com que Deus a cercava, era para ela um novo gênero de tormento. O olhar de Deus a atravessa e tudo é queimado na alma por esse olhar.

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     Após algum tempo uma das Irmãs entrou na cela e me encontrou quase morta. Assustou-se e foi chamar a Mestra que, por força da santa obediência, ordenou que eu me levantasse do chão. Imediatamente voltaram minhas forças físicas e levantei-me do chão, toda tremendo. A Mestra percebeu logo o estado da minha alma, falou -me da insondável misericórdia de Deus, dizendo-me: ¨Irmã, não se perturbe seja com o que for; e ordeno-lhe isto pela virtude da obediência. ¨ E acrescentou: ¨Agora reconheço que Deus esta destinando a Irmã para um alto grau de santidade. O senhor quer ter a Irmã perto de Si, já que permite tais provas e tão cedo. Que a irmã seja fiel a Deus, porque isto é sinal de que deseja lhe reservar um elevado lugar no Céu. ¨ Mas eu não compreendia nada dessas palavras .

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     Quando entrei na capela, senti como se a minha alma fosse completamente purificada, como se acabasse de sair das mãos de Deus; intui, então, a pureza inviolável da minha alma e senti-me como uma criancinha. Então, de repente, vi anteriormente o Senhor, que me disse: Não tenhas medo, minha filha, Eu estou contigo. Nesse momento dissiparam-se todas as trevas e angústias, os sentidos foram inundados de indizíveis alegrias, as faculdades da alma repletas de luz.

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     Ainda quero mencionar que, embora a minha alma já estivesse sob os raios do Seu amor, no meu corpo ficaram ainda por dois dias os vestígios do tormento passado. O rosto mortalmente pálido e os olhos ensanguentados. Só Jesus sabe o quanto tinha sofrido. Comparando com a realidade, aquilo que escrevi parece sem expressão. Não sei expressá-lo, parece que voltei do outro mundo. Experimento agora uma aversão a tudo que é criado.      Aconchego-me ao Coração de Deus como uma criança ao peito da mãe. Vejo tudo com outros olhos. Estou consciente de tudo que Deus fez na minha alma com uma só palavra e por Ela vivo. Tremo só de me lembrar dos tormentos passados. Não teria acreditado que se pode sofrer tanto se eu mesma não tivesse passado por isso. É um sofrimento inteiramente espiritual.

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     Todavia, em todos esses sofrimentos e lutas, eu não faltava a Santa Comunhão. Quando achava que não devia comungar, procurava antes da Comunhão a Mestra e dizia-lhe que não podia comungar, parecia-me que não deveria comungar. Ela, no entanto, não permitia que eu deixasse à Santa Comunhão; comungava e vi que somente a obediência me salvava.

     Foi a própria Mestra que me disse mais tarde que essas minhas provações passaram depressa justamente porque a ¨Irmã foi obediente. É só pelo poder da obediência a Irmã superou tudo isso com tanta coragem.¨ Na verdade foi o próprio Senhor que me tirou desse tormento, mas a fidelidade à obediência Lhe foi agradável. Embora sejam coisas pavorosas, nenhuma alma deve assustar-se demasiadamente com elas, porque Deus não nos submete a provas que estejam acima de nossas forças.

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     E, por outro lado, talvez Ele nunca permita que soframos tais suplícios. Escrevo isso para que, se Deus houver por bem conduzir alguma alma por semelhantes suplícios, que não tenha medo, mas seja fiel a Deus em tudo, na medida, em que isso depender dela. Deus não causará dano à alma, pois é o próprio Amor, e foi nesse amor inconcebível que a chamou à existência.

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     Mas eu, quando estava nessas aflições nada compreendia. Ó meu Deus, conheci que não sou desta Terra; Deus infundiu tal consciência na minha alma (em ) alto grau. A minha permanência é mais no Céu do que na Terra, embora eu em nada descuide das minhas obrigações.

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     Nesse período não tinha um diretor espiritual e não recebia qualquer tipo de orientação. Eu pedia ao Senhor, mas Ele não me dava um diretor. O próprio Jesus era o meu Mestre desde a minha infância, até agora. Conduziu-me através de todos os desertos e perigos, e reconheço claramente que somente Deus me poderia ter conduzido por um tão grande perigo sem nenhum prejuízo e sem risco, deixando a minha alma imune e fazendo-me vencer todas as dificuldades, mesmo as mais inconcebíveis. Saí (...) . Todavia, mais tarde, o Senhor deu-me um diretor.

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     Após esses sofrimentos, a alma esta em grande pureza de espírito e muita próxima de Deus. Devo, porém, observar que, nesses tormentos espirituais, embora se encontre perto de Deus, nesses tormentos espirituais, embora se encontre perto de Deus, ela está cega. O olhar da alma é envolvido pelas trevas, apesar de Deus estar bem mais próximo de uma alma tão sofredora. Todo o Deus estar bem mais próximo de uma alma tão sofredora. Todo o segredo consiste em que ela de nada sabe. Ela afirma não somente ter sido abandonada por Deus, mas ter-se tornado objeto do seu ódio. Que grande doença dos olhos da alma que, atingida pela luz divina, afirma que esta luz não existe. E, no entanto, ela é tão forte que a cega.      Todavia, conheci mais tarde que Deus está mais perto da alma nesses momentos do que em outras ocasiões, porque, com a simples ajuda da graça ela não suportaria tais provações. Atuam aqui a onipotência de Deus e a graça extraordinária, porque de outra forma a alma sucumbiria ao primeiro golpe.

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     Ó Mestre Divino, o que acontece na minha alma é somente obra Vossa. Vós, o Senhor, não receais colocar a alma à beira de um terrível precipício, onde ela se amedronta e se assusta, e novamente a fazeis voltar a Vós. Eis os nossos insondáveis mistérios!

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     Quando nesses tormentos da alma eu procurava acusar-me na Santa Confissão dos menores defeitos, o sacerdote admirou-se por eu não ter cometido faltas maiores e disse-me estas palavras: ¨Se em meio a esses tormentos a Irmã é tão fiel a Deus para mim isto já é prova de que Deus está amparando a Irmã com Sua graça especial, e até é bom que a Irmã não compreenda isso.¨ Contudo, é estranho que os confessores não me pudessem compreender nem tranquilizar com relação a essas coisas. E foi assim até que encontrou Frei Andrasz e depois Padre Sopocko.

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